Sabe aquela ansiedade de esperar o correio bater a campainha com uma carta no seu nome? Soa como coisa dos nossos avós não é? Mas eu estava assim até chegar recentemente meu passaporte com o meu suposto quinto visto americano. É a primeira vez que eu não tenho que viajar para o Rio de Janeiro ou São Paulo, enfrentar filas, perder tempo, sentir frio na barriga, ser entrevistado e torcer para que o visto seja aprovado.
Renovação do visto americano
Para algumas pessoas que já têm o visto americano, não é mais necessário visitar o consulado para a renovação do visto (consulte os requerimentos aqui), mas ainda é preciso marcar um horário e se dirigir ao um Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto (CASV) para entregar os documentos. Era uma quinta-feira quando fiz todos os procedimentos de cadastro e registro pela internet. Apesar das perguntas de sempre como se eu já matei alguém, se sou traficante, prostituto, etc, a parte mais demorada foi ter que listar todos os países que viajei nos últimos 5 anos… Com as perguntas respondidas o pagamento era feito ali mesmo na tela do computador (em outros tempos eu tinha que caçar um city bank na cidade) e o agendamento para o dia seguinte às 10:30 da manhã (já vi filas para meses de espera!). Acabei chegando uma hora mais cedo e incrédulo, 10 minutos depois eu já estava livre!
Realmente nunca foi tão fácil conseguir um visto assim! E nem me perguntaram aquilo que eu sempre tenho dificuldade em responder: “Por que e com que dinheiro você viaja tanto?”
A primeira entrevista de visto a gente nunca esquece
Sete anos atrás quando eu me preparava para viajar pela primeira vez, conseguir um visto (de trabalho ainda!) realmente não foi nada fácil. Eu era um moleque introvertido, ansioso, pensando em todas as possibilidades para o visto dar errado, sem saber que dessa forma eu só estava atraindo o pior. Para contratar uma agência e pagar pela viagem cheguei a pedir um empréstimo em banco (no nome da minha mãe já que juros para aposentados é mais baixo, obrigado pela confiança mãe!). O intercâmbio de trabalho nos EUA era a única possibilidade ($) que eu via de poder viajar para fora do país, mas para isso esperei (im)pacientemente entrar na UFMG e as minhas primeiras férias de fim de ano.
Para a primeira entrevista do visto a ansiedade era grande. Eu devia estar visivelmente nervoso e no ônibus de excursão que nos levou de BH para São Paulo a guia com um microfone na mão falava o tempo todo para gente: “Fiquem tranquilos, relaxem!” Mas o efeito parecia ser o contrário, dava vontade de… deixa para lá. Dezenas de estudantes que passavam a noite em claro no ônibus chegavam no início da manhã em São Paulo, ficavam em pé por horas até serem atendidos no início da tarde. Quando chamavam o nome para entrevista final, parecíamos bezerrinhos indo para o batedouro. Ainda me impressiona que a taxa de aprovação dos vistos fosse tão alta.
Acho que a sorte de ter conseguido o visto aprovado todas as vezes foi o fato de eu disfarçar o nervosismo com um sorriso no rosto. Lembro que em uma das entrevistas, quando eu disse que queria ser piloto, a americana começou a bater papo comigo dizendo que amava voar, eu disse que pilotava parapente e ela emendou com os esportes radicais que já tinha feito como pular de bungee jump, só faltou trocarmos ICQ ou Orkut, para mantermos contato.
Obstáculos de quem viaja muito
Como eu não tenho dupla cidadania, conseguir vistos é um dos preços que pago para poder viajar tanto. Muita gente acha que eu tenho um passaporte especial ou coisa do gênero. E político ladrão ou gente famosa também não escapa, eu já vi até o falecido Celso Pitta na fila do visto americano em São Paulo. E fora o visto dos EUA já tive desafios com outros também como o do México. Já tive que me deslocar para o Rio de Janeiro três vezes para conseguir o visto mexicano (hoje quem tem o visto americano não precisa mais tirar o mexicano) e visitei o consulado canadense outras 4 vezes, fora o da China, Vietnam, etc. E a minha posição como imigrante temporário nem sempre é tão tranquila. Já recebi uma carta de deportação quando minha extensão de visto de estudante nos EUA foi negada, Rafael e eu já quase fomos detidos quando pousamos nas Bahamas, na Servia ficamos detentos durante uma noite com a polícia de fronteira na estação de trem por não termos o visto e na Guiana Francesa conseguimos um jeitinho de entrar sem o bendito selo no passaporte.
Algumas dicas para você
Se conseguir vistos para uma viagem longa soa desafiador, não desanime! Ao contrário do que muita gente pensa, o passaporte brasileiro te dá possibilidade de visitar muitos países sem a necessidade de vistos. Sabe quantos? 146 países! Isso nos põe na 19a posição no ranking de restrição por vistos. E se tem uma dica que eu posso te dar é: Não confie em tudo que você lê na internet sobre procedimentos na requisição de vistos. Tenho visto muitas informações desatualizadas em blogs e mesmo em sites governamentais. Sempre que possível procure fontes oficiais e sempre confira com outras fontes, mande e-mails para consulados ou mesmo faça uma chamada por telefone. Eu mesmo não fiz meu dever de casa muito bem quando decidi passar de trem pela Servia. Vi em um um site na internet que não precisava do visto e acabei ficando detido. Uma boa fonte para começar sua pesquisa é consultar os alertas por países do portal do Itamaraty, que é o site mais atualizado que vi nos últimos meses principalmente sobre vistos para brasileiros. Outra coisa, muitos vistos podem ser obtidos em outros países em que já estiver viajando, mesmo que um país diga que só é possível retirar o visto no país de residência, como no caso do da China que consegui na Singapura. Lembre-se: Nem todas as regras são tão absolutas quanto parecem. Alguém disse que não pode sorrir na foto do visto? Observem a foto do meu visto que abre esse post!
Um mundo sem fronteiras
Sempre que eu atravesso uma fronteira ou gasto tempo pedindo vistos eu lembro do que um dos meus músicos favoritos, Yanni, disse em um show que fui em Budapeste:
“Alguns anos atrás eu ouvi um astronauta falando de suas experiências no espaço e do que a Terra parecia para ele lá de cima. Muito do que ele disse tem sido repedito pelos astronautas da estação espacial e o que eles dizem é que quando olham a Terra lá de cima eles tem dificuldade de distinguir um país do outro porque as linhas que estão no mapa não estão no solo… Eu sonho com o dia em que todas as linhas desapareçam e a gente finalmente perceba que somos um só povo vivendo nesse mágico e lindo lugar chamado Terra, e que o que quer que façamos com a terra fazemos com nós mesmos.”
Vim aqui pra pegar informações pra próxima viagem e adorei ler isso aqui!! rsrs….
beijos!!
Ooi, parabéns pelo post, super esclarecedor! Realmente algumas regras não são sempre aplicadas no mínimo detalhe,cada caso é um caso.
Você já ouviu falar em season works? São trabalhos “por temporada” que você faz dentro do país por um período máximo de meses que varia de acordo com as regras de cada país específico… Minha vontade era de viajar o mundo com esse visto/trabalho, tipo, em cada região da rota eu iria aplicar para alguma vaga temporária na área de hospitalidade e etc… Pra poder entrar no país podendo trabalhar legalmente, mesmo Que por um período curto. Gostaria de saber sua opinião sobre o assunto. Você acha que daria certo? Estava querendo começar pelos EUA e dps ir para UK.
Mais uma vez, parabéns pelo post e por compartilhar suas experiências conosco! Sucesso no blog 😀
Olá, excelente post! Muito completo!
Estou pesquisando tudo que preciso para minha viagem ao mundo e tenho duas duvidas que talvez vcs já tenham a resposta.
1) No site do Itamaraty, o link que está no post não está mais funcionando, consultei então o site, mas não estou encontrando os alertas. Vcs por acaso possuem o link atualizado?
2) Minha viagem será longa, pretendo rodar o mundo, então países como india, russia, bielo russia etc, se precisarem ainda de visto, será que consigo tirar eles em transito? Não tenho certeza das datas que estarei por lá.
Muito obrigado! Se não tiverem estas respostas, ok. O post já me ajudou muito!
Olá Daniel! bem vindo ao vagamundagem!
1) Uhm, valeu por avisar. Er abom demais para ser verdade mas parece que a página está fora de ar mesmo. Tomara que seja temporário, mas qualquer coisa vc pode vir aqui e clicar em destinos: http://www.portalconsular.mre.gov.br/ mas ainda continua fora de ar!
2) Eu geralmente tiro meus vistos fora do Brasil mesmo. Os únicos vistos que eu já tirei no Brasil foi dos EUA e do México (quando era necessário). Não precisamos de visto pra Rússia mas certifique com o país que vc precisa de visto que vc pode tirar fora do pais de residência.
Volte sempre e passe aqui depois para compartilhar da sua viagem, aproveite!
Estamos preparando nossa volta ao mundo e já cometemos um erro: pedimos com muita antecedência o Visto da Índia e esquecemos de ver por quanto tempo vale: 6 meses o que acabou fazendo com o que o visto emitisse viesse com data vencida, ou seja, 3 dias antes de entrarmos no país o visto vence…Agora estamos em um dilema, como pedir um novo visto com um visto ativo? Vamos achar uma solução! Bem, e outra, o seu relato sobre a Sérvia nos ajudou muito, pois a gente achou que não precisava!
Oi Tatiane, pois todos nós cometemos esses erros até quem já tem experiência de viajar pelo mundo, acredite! Depois desse post eu voltei para a Sérvia no mês passado e comprovei que não precisamos mais do bendito visto, então aproveite! Um abraço e boa viagem! Depois volte aqui para me contar como anda sua viagem, beleza? Adoro ficar por dentro dos preparativos, das aventuras e do retorno à casa!
Abração!
Só atualizando, agora brasileiros não precisam mais do visto pra entrar no méxico, independente de ter visto americano ou não:
http://consulmex.sre.gob.mx/riodejaneiro/images/pdf/eliminaseorequisitodevisto.pdf
Oh! Valeu pela info Felipe, bom demais! 😉
Ótimo post, Gusti! Cheio de informação, e com o Yanni além disso! Hehe…
Mas dando uma olhada nesse site do Itamaraty, eu vi que na maioria dos países europeus (Espaço Schengen), você precisa de ter uma carta convite oficial da pessoa que vai te hospedar e de ter a passagem de volta já marcada, entre outras coisas… você que viajou a europa toda, eu gostaria de te perguntar o seguinte: você realmente tem que ter, entrando na fronteira, essa carta convite oficial de cada pessoa com quem você fosse ficar? Eles realmente exigem tudo que tá no site? Por exemplo, se você fosse usar o couchsurfing, você teria que pedir pra cada host com que você vai ficar te mandar essa carta? Ou você reserva um hotel ou albergue por um tempinho só pra mostrar pro agente, e depois encontra o host? Ou só mostrar que tem dinheiro já é o suficiente…? Eu te pergunto isso porque gostaria de, no futuro, fazer um tour por alguns países europeus usando o couchsurfing e ficar por la por pelo menos dois meses…
Valéu pelas informações úteis, Gusti! Abraços!
Vixe Lucas, se for olhar muito as regras sou um viajante desleixado. Nunca me preocupei muito com isso e sempre que entrei na Europa nunca me pediram nada disso, nem mesmo de seguro de saúde (que eu nunca fiz, shh segredo hein!) E como eu disse tem regras que não são tãaao regradas assim. 😉
ps. Esse post foi sugestão sua, vc sabe né? Valeu!
Uma abraço!