Julho e Agosto são os meses mais cheios da Europa. Eu sempre evitei viajar por lá no verão mas dessa vez pegando carona nas férias de alguns amigos eu quis testar minha capacidade de “vagamundar”.
Eu passei a maior parte da minha viagem no leste europeu dessa vez, mas ainda assim fui visitar cidades super turísticas como Veneza e Munique. Veneza estava tão cheia que a impressão era que explodiria a qualquer momento. Os casais apaixonados em lua de mel-azedo eram o centro das atenções de dezenas de turistas se cotovelando para garantir algumas fotos das pontes enquanto ouviam os barqueiros se xingando nos congestionamentos intensos dos canais. Como garantir sua hospedagem nesses casos?
A melhor dica que você vai ouvir por aí, não serve para mim: Se programar e reservar com antecedência seu lugar seja em um hotel no booking.com ou um sofá pelo couchsurfing.org. Mas por que não serve para mim?
Olha essa pergunta que recebi de um leitor por e-mail:
“Mas todos esses países e cidades pelos quais você está passando agora, você já tinha um roteiro estabelecido, pelo menos uma ideia de quais lugares você gostaria de visitar ou você decide onde vai quando você chega num lugar, e depois pega as oportunidades que se apresentam pra conhecer outros lugares? Se não me engano, uma parte da viajem você estava “de carona” com uns amigos, mas depois você partiu sozinho pra uns lugares… isso dá a impressão que você não segue um roteiro rigorosamente, mas simplesmente “vagamunda”, o que faz sentido, considerando o nome e propósito do blog!”
Sim Lucas, você tem razão. Eu não sigo um roteiro rigorosamente mas tenho um esqueleto e uma ideia das opções de onde eu vou estar até para poder me garantir com couchsurfing. O que eu faço é imprimir um calendário (de papel mesmo) e bloquear as datas e lugares que são mandatórios. Por exemplo, para essa viagem eu tinha a princípio a cidade de chegada e a da saída do meu voo na Europa, depois coloquei a cidade onde encontraria meus amigos. Com isso eu vou no googlemaps e no rome2rio e começo a ver as opções de lugares a visitar no meio do caminho e as opções de transporte. Em seguida coloco meu itinerário aproximado público no couchsurfing, já pedindo por ideias e sugestões do que ver e fazer nas proximidades e vou mudando conforme anda a carruagem.
Quando eu mando um pedido de sofá no couchsurfing eu marco a opção de “datas flexíveis” e já pergunto o meu host se tem uma data preferencial para a minha chegada. Quando recebo a confirmação de um sofá já faço um novo bloqueio no meu calendário e isso pode acontecer no dia anterior da minha chegada! Outra coisa que costuma bloquear meu calendário são concertos, principalmente na Europa. Dessa vez por exemplo ainda na Croácia eu vi que 2cellos apresentaria em Mostar na Bósnia e acabei comprando o ingresso. Então aquele dia eu não estaria naquela cidade apenas se acontecesse um imprevisto.
Dessa forma eu consigo garantir a “vagamundagem” e ter uma espécie de roteiro ao mesmo tempo por exemplo. Quanto mais tempo você dispõe mais você consegue vagamundar e menos você precisa se preocupar com roteiros.
Quando eu marquei minha viagem para a Europa, a única certeza era que eu visitaria a Croácia que era onde eu estava combinando de encontrar meus amigos. Como o voo mais barato que encontrei para a Europa foi chegando em Milão e saindo de Munique deu para aos pouco ir acrescentando os destinos.
Essa flexibilidade quando estamos viajando gera uma sensação boa de liberdade. Você pode ficar mais tempo em lugares que curte mais ou sair correndo dos lugares que você odeia (não que isso tenha acontecido). É bom deixar claro porém que principalmente no verão essa liberdade tem um preço, que pode ser horas buscando por uma acomodação ou mesmo estar preparado para passar a noite em algum lugar na rua.
Onde passei as noites?
Das trinta noites, doze passei na casa de amigos ou usando o couchsurfing, cinco em ônibus/trem, doze em albergues ou dividindo apartamentos com meus amigos, uma em um barco (botel) e metade de uma noite dormindo na rua.
Algumas cidades como a medieval cidadela de Stari Grad na Croácia recebe a maior parte de seus visitantes em apenas um mês do ano e nesse mês mais cheio, Agosto, lá estávamos eu e meus amigos tentando nos hospedar pelo melhor preço possível. Como éramos quatro, a melhor opção foi alugar apartamentos. Depois de descobrir que couchsurfing seria missão quase impossível para nós quatro nessas ilhas isoladas, partimos para o airbnb e até encontramos algumas opções bem interessantes e econômicas, mas não tivemos muita sorte porque queríamos apenas 2 ou 3 dias em cada destino a princípio e na alta temporada os donos das casas preferem esperar por alguém que vá ficar por mais tempo e não vá bloquear o calendário com uma estadia de duas noites. Ainda assim conseguimos ficar em apartamentos em duas das ilhas. Em Hvar alugamos pelo próprio booking.com, um apartamento novo de dois quartos, com cozinha completa, sala e banheiro, numa localização boa. Pagamos 100 Euros por dia para 4 pessoas.
Quando seguimos para Korcula, assim como em Split anteriormente não tínhamos ideia de onde passaríamos a noite. Quando desembarcamos da balsa logo vieram algumas pessoas oferecendo suas casas, quartos e outros apartamentos. Acabamos por escolher seguir uma senhora que oferecia o apartamento mais barato deles. Como era mais afastado tivemos que caminhar uns 20 minutos seguindo a senhora e tentando comunicar com ela com o pouquinho dos 5 idiomas que ela dizia falar. A gente se divertiu tentando ou fingindo entender todas as histórias que ela contava para a gente ao longo do caminho. Quando chegamos no apartamento, vimos que não era o que queríamos, ficava em um lugar muito afastado, longe de tudo, era muito quente, não tinha ar condicionado e o pior, a wifi não funcionava. Ela jurava que a internet funcionava as vezes e lá foi ela tentar provar. Pegou o celular do meu amigo, levou lá para fora e ficou tentando pegar sinal com o braço levantado. Parecia até piada. Nos despedimos e voltamos para o centro da cidade para encontrar o outro cara que tinha também oferecido um apartamento. Acabamos ficando em um apartamento super bem localizado, com tudo que precisávamos e até com uma vista bem bacana por 80 euros para nós quatro.
O próximo destino porém exigiria um desafio maior. Dubrovinik é a cidade mais cara e turística da Croácia. Não achamos nenhuma opção razoável na internet e partimos para lá prontos para passar a noite em uma praça se fosse preciso. Depois de uma hora na internet descobrimos que tinha um barco que oferecia alguns quartos com bons preços para passar a noite. Seguimos para lá e para a nossa surpresa ainda havia quartos com quatro beliches por 18 Euros cada. O quarto no barco era bem pequeno, mas para quem não tinha muita esperança de achar uma cama para dormir aquela noite com um preço razoável, não podíamos reclamar, né!?
Mas dormir na rua será que realmente poderia ser uma opção? Por que não? As vezes nada melhor que uma noite mal dormida para gente valorizar qualquer cama. Quando chegamos na Bósnia por exemplo as 2 da manhã, juntamos as cadeiras do restaurante ao lado do posto de gasolina onde o ônibus nos deixou e dormimos ali mesmo, acordamos bem cedo e seguimos caminhando para o centro da cidade e ainda tivemos a oportunidade de fotografar uma das cidades mais bonitas da Bósnia com o nascer do sol. Dormir em ônibus ou trem é ainda outra opção de hospedagem que te faz conhecer mais lugares economizando na hospedagem. Eu não tenho muita facilidade para dormir em veículos em movimentos então nesses casos acabo tomando um dramin.
Visitar a Europa fora de temporadas altas pode ser menos desafiante, mais tranquilo e bem mais econômico. Alguns lugares como as praias das ilhas croatas fazem realmente mais sentido visitar no verão, mas esteja ciente de ir ou com o bolso preparado ou com paciência para algumas aventuras inesperadas. Se prepare para improvisar e seja criativo explorando opções que você não pensaria normalmente. E uma dica, se não tiver onde passar a noite ainda, não gaste o dia inteiro pensando onde vai dormir em vez de aproveitar a paisagem e as experiências do dia!
Confira o post onde revelo quanto custou um mês de viagem pelos Bálcãs/Leste Europeu
E ai Gusti! Que bom finalmente conhecer a forma que você planifica as “vagamundanças”! Me pergunto quanto tempo levou pra você chegar a funcionar dessa forma, pois imagino que você deve ter passado por uma fase de transição… do método “convencional” de viajar (no qual você segue o roteiro) ao método vagamundo (no qual o roteiro segue você… sem que ele o saiba). Creio que essa seja a forma mais harmoniosa de viajar possuindo o desejo de visitar um tal lugar, desfrutando ao mesmo tempo da liberdade. Mas respondendo ao tópico, eu ainda não passei por uma situação assim, pois todos os lugares aonde fui e fiquei por mais tempo eu tinha família por perto, como em Nova Iorque.
Aquele abraço!
Oi Lucas, não sei quanto tempo levou exatamente, mas é tudo gradual, aos poucos fui percebendo que quanto mais flexível eram minhas viagens mais eu ficava satisfeito… Um abraço!