Eu não tinha nenhuma imagem específica na cabeça do que poderia ser Bali, na Indonésia, mas ao longo do tempo, a mídia me alimentou com a ideia de praias maravilhosas e uma cultura diversa e intensa, bem diferente de tudo para nós brasileiros. Talvez a imagem mais recente que eu tinha de Bali vinha do livro, “Comer, Rezar e Amar” e o que eu imaginava eu posso até usar a palavra “exótico” para descrever. Conhecer aquele lugar tão distante dava uma ideia de pioneirismo, como se eu fosse descobrir uma nova tribo numa ilha afastada do mundo.
Confesso que só fui para lá incentivado por uma promoção de passagem aérea saindo da Tailândia onde eu estava por alguns meses e dessa vez (e como vem acontecendo com cada vez mais frequência) não pesquisei muito sobre o lugar antes de chegar lá. Do momento em que eu pus os pés no aeroporto até a hora de ir embora, 20 dias depois, eu me deparei com várias surpresas e nem sempre elas eram tão boas. Apesar das decepções a ilha ainda impressiona pelos terraços de arroz, as cerimônias religiosas, danças tradicionais, florestas e algumas praias lindas.
Talvez a melhor das experiências foi ser hospedado por uma autêntica família balinesa. O que você imagina como autêntico talvez seja alguma coisa do tipo:
Mas claro que não, se você ainda não leu meu post sobre minha hospedagem em Bali, clique nesse link. Nos hospedamos com uma família hindu que tem sim seus costumes religiosos e eles se vestem com suas roupas típicas apenas para suas cerimônias, mas o típico balinês no dia a dia não se veste muito diferente da gente. E a rotina dessa família que nos hospedou não difere muito da nossa no Brasil. Trabalhar, levar os filhos na escola, enfrentar o trânsito diário. Trânsito? Em Bali?
As maiores decepções:
1. O trânsito
Eu realmente não esperava ver tanta confusão e gastar tanto tempo dirigindo naquela ilha. Você quer ir de um ponto A ao ponto B para conhecer um restaurante que tem boas revisões no trip advisor e você acaba levando facilmente 1 hora quando o googlemaps diz que leva 15 minutos. Para ir da praia mais popular Kuta ao “centro cultural” da ilha, Ubud, é uma verdadeira aventura, principalmente se você vai dirigindo uma moto. Ninguém respeita a sinalização. Você vê famílias inteiras dirigindo as motos em altas velocidades, buscando os espaços mais mínimos para passarem outros carros, dirigindo nas calçadas, as curvas são feitas avançando na contramão e se você está a pé e quer atravessar uma rua tem que contar com a sorte. O Lonely Planet fala em 8 mortes por dia apenas na ilha de Bali devido à acidentes no trânsito. Quando eu li isso eu não acreditei até ver a média em toda Indonésia: 120 mortes por dia, segundo o Washington Post.
Olha esse vídeo que fizemos num cruzamento mais tranquilo para você ter uma ideia. Olha o desafio de atravessar uma rua:
2. Ser assaltado pela própria polícia!
Ouvimos que turistas dirigindo ser parado pela polícia era comum em Bali, mas ser roubado pela própria polícia realmente me deixou chocado. Em um cruzamento, vimos várias pessoas passando um sinal vermelho e mesmo sabendo que dava para passar também, paramos. Quando olhamos para o lado um policial em um café nos da sinal para entrar no estacionamento e nos pediu os documentos. O Rafael mostra sua carteira de motorista internacional e o documento da moto. Estávamos tranquilos porque não tinha nada de errado. Um policial entrega os documentos para um outro, que com um cigarro aceso e baforando na nossa cara, manda a gente sentar numa mesinha. Ele fala que o documento estava vencido e mostra uma data de 2010 no documento da moto (que depois fui saber que era apenas a data de emissão – os documentos estavam em dia), e ele pede logo de cara 500 mil rúpias. A gente fala que não tinha dinheiro e ele vai diminuindo a multa para 200 mil rúpias. A gente insiste que não tem dinheiro e que tínhamos que ligar para o dono da moto. Toda vez que eu ameaçava ligar ele diminuía o valor até deixarmos bem claro que não tínhamos dinheiro mesmo e que não poderíamos pagar aquela multa. Ele ameaça nos levar para a delegacia dizendo que seria bem pior e que teríamos que pagar ainda mais, mas mantivemos resolutos em não pagar nada e ele acaba nos liberando com um sinal de “xô” com as mãos, a cara amarrada e soltando a fumaça do cigarro na nossa cara.
Naquele mesmo dia em uma estrada bem movimentada da ilha outro grupo de policiais nos fez parar no meio do fluxo no sentido oposto de onde eles faziam a “blitz”, atravessamos várias motos que eles eram incapazes de fazer parar para a gente atravessar a rua. Um dos policiais logo solta que a gente foi parado porque o capacete do Rafael não protegia a orelha dele. Na mesma hora, uma família com três pessoas passava na nossa frente, todos na mesma mesma moto e sem capacetes, o que é bem comum em Bali. Parecia até piada, se o policial não estivesse tão sério e tratando a gente com tanta grosseria. Quando a gente falou que não tinha dinheiro tinha uns 5 policiais em volta da gente, todos bem sérios e pedindo o dinheiro com pressa. A gente estava literalmente sendo assaltados pela polícia! Ele pedia: “O que vocês tem no bolso, mostra tudo” de forma bem ríspida e quando ele pediu para ver a carteira do Rafael ele quase tomou da mão dele quando o Rafael abriu a carteira para mostrar tudo o que ele tinha: 150 mil rúpias (aproximadamente R$30). Ele pegou o dinheiro e mandou a gente dar mais dinheiro até convencermos de que era tudo que tínhamos e deixou a gente ir.
3. Uma das praias mais sujas que conheci
O que esperar de uma praia bem popular? Kuta é a praia mais famosa de Bali e por esse motivo eu não tinha muitas expectativas, como a praia de Ko Phi Phi na Tailândia eu imaginava uma praia abarrotada de turistas, mas ainda assim com águas belas e areias brancas. Mas não, Kuta é uma das praias mais sujas que eu já visitei e sim, lotada de turistas principalmente nas ruas ao redor daquela área.
4. Cultura para turista ver
Como muitos lugares que a gente etiqueta de “exótico”, muitas atrações de Bali pareciam manter as “tradições” apenas para manter a fachada de ilha “cultural” que tanto alimenta o turismo, principalmente a área de Ubud. Não me entenda mal, é muito interessante conhecer essa área, mas chegou um ponto que é realmente difícil distinguir o que é real do que é feito para turista ver. O turismo cresceu de uma forma bem agressiva nos últimos anos e de forma nada sustentável. Pouco a pouco as plantação de arroz estão dando espaço a cada vez mais hotéis, resorts e vilas de veraneio e as ruas curtas e apertadas não conseguem absorver a demanda de tráfego e espaço para os carros, motos e pedestres.
O resultado de tudo isso eu podia ver na cara de tristeza de um americano que eu conheci em um restaurante que me disse que a ilha mudou muito desde quando ele foi para lá, em busca do surf a 10 anos atrás. “O turismo está jogando a ilha no lixo” disse ele revoltado. Mas se Bali decepciona hoje é justamente pela soma das pessoas que vieram pelos mesmos motivos que eu, ele e você que planeja sua viagem a Bali.
Mas para provar que mesmo com essa decepções a ilha ainda vale a pena ser visitada, confira as fotos aqui ou aqui pelo facebook, e assista esse vídeo com o resumo do nosso dia caminhando em Ubud:
Eu super valorizo o trabalho de quem trabalha com blog e compartilha experiências de viagem, inclusive porque é uma responsabilidade muito grande. Você influência o olhar das pessoas antes mesmo delas chegarem no lugar. Por isso resolvi dizer que não achei legal essa postagens simplesmente por ser MUITO tendenciosa. Você resume Bali a esses problemas, que são pequenos diante de tudo que a ilha oferece. Eu estou em Bali há um tempo e estou achando tudo bem maravilhoso. De repente seria importante mostrar esse lado tb.
Eu acabei de voltar de Kuta e achei tudo lindo.
Praticamente não sai do hotel por ter ido com bebê no colo.
Eu já sabia dos policiais, e não queria me arriscar em nada, logo de cara não quis alugar carro nem andar de táxi. Só saímos da rua do hotel com conhecido morador local que nos levou a um mercado para fazer compras (onde ninguém falava inglês, sem esse amigo nunca que iríamos lá )
Achei tudo muito barato, como óleo para massagem, pimentas e roupas.
Comemos só em shoppings e no hotel. E fiquei muito satisfeita.
Talvez para um brasileiro, sendo o real tão desvalorizado, não seja muito barato.
Mas comer olhando pra praia com uns 10 a 20$, para mim é muito barato.
Não passamos muito tempo na praia pois a onda estava muito forte para brincar com bebê, e achei a praia suja. (Em comparação com a de Santos, era super limpo).
O ar de Kuta é tão poluído quanto ao de São Paulo.
Passamos a maior tempo na piscina para crianças do hotel e fazendo massagens.
Talvez em um resort seria mais interessante para país com bebês. Eu sei que tem hotéis com babás.
Foi muito prazeroso tanto pq fui com objetivo de descansar e ficar com pernas para o ar.
Os vendedores e taxistas nos seguiam com a maior esperança, mas quando começávamos falar alto em português, paravam de nos seguir kkkkkkkk
Olá Viviana,
Vc citou santos no comentário, vc é de Santos? Estou com viagem marcada para Julho/18 e vou sozinha, gostaria de algumas recomendações. Meu Instagram é tatimaresiasbrasil caso possa me contatar para trocar informações. Obrigada.
Estava lendo o seu blog porque me achou atenção que você não escreve só sobre as coisas boas de Bali, mas sim revela também um outro lado. Eu já fui duas vezes para Bali, a primeira há dois anos atrás e agora recentemente entre abril e maio passei 23 dias. Aí vendo as suas fotos fiquei muito feliz de encontrar uma senhora balinesa fazendo artesanato com folhas de côco (para as oferendas)!! Eu conheci ela agora na minha segunda vez em Bali, parei na barraquinha dela para tomar uma água de côco e bater um papo, apesar do inglês dela não ser lá muito bom conseguimos nos comunicar. Hehehe! E ela continua lá, no mesmo lugar, na estradinha que passa em meio aos arrozais de Ubud.)) Sobre a sua experiência de ser assaltado pela polícia eu imagino o sufoco que vocês passaram hein, apesar do típico balinês ser de muito boa índole, sei bem que eles conseguem ser bem ríspidos quando querem. E choca, quanto mais vindo da polícia, que é uma instituição que você espera que esteja lá para te proteger. Agora existem muitas “Balis” diferentes dependendo do lugar que você for. Kuta é muito conhecida por acontecer justamente esse tipo de coisa, corrupção da polícia, brigas, roubos e especialmente por enganarem turista ao trocar dinheiro em casas de câmbio. Eu mesma fui vítima desse último exemplo, mas consegui reverter a situação a tempo. Porém, atualmente até mesmo os balineses de outras regiões da ilha não aconselham a ir para Kuta, relatando casos desse tipo, e, caso você insista em ir, te dão muitas recomendações. Não digo que não aconteça em outros lugares, acontece sim, mas é menos, e no fim das contas a gente tem que ter cuidado em todos os lugares mesmo!! Eu só fiquei duas noites em Kuta antes de ir embora, num hotel próximo ao aeroporto, porque o meu vôo saía muito cedo pela manhã, e achei que já foi demais! Que Bali mudou muito nos últimos anos com o avanço do turismo isso é certo, no entanto, eu acho que ainda é possível encontrar alguns lugares que preservam a cultura e mantém a atmosfera primitiva de Bali se distanciando da região de Kuta, com todo o respeito às opiniões contrárias.
Um abraço!
prefiro meu canto em sp na praia
Bom, paraíso só existe em foto, e não estou dizendo sobre Bali, mas sobre todos os lugares. 90% dos lugares que conheci, principalmente em países subdesenvolvidos, as fotos mostram o lado bonito, mas escondem detalhes como o acesso, preservação, taxas abusivas e entre outros. E discordo do fato do turismo estar destruindo Bali, morei 3 meses na Indonésia, em Sumatra, lá não tem turismo e o trânsito é caótico também, o lixo é presente em praias paradisíacas e a infraestrutura para chegar as praias praticamente não existe. O povo é islâmico ,as pessoas são mais desconfiadas que os balineses. Bali é melhor que o resto do país, isso devido a grana que entra dos turistas, principalmente australianos. Quando você conversa com os mochileiros que curtem Bali, todos dizem que Amar, Comer e Rezar é uma piada que esta virando a cabeça do povo, que busca uma paraíso perfeito onde encontrará o seu amor (apesar de eu ter conhecido minha namorada lá kkkk) e receberá a previsão de como será a vida. Mas enfim, como um Rio de Janeiro, Cidade do Cabo e muitas outras, Bali é um local com suas belezas e com seus defeitos, quem viaja deve saber apreciar até mesmo os perrengues. Por exemplo, fiquei um dia inteiro preso no Aeroporto de Jakarta (sem saber onde estava minha mala), hoje dou risada do acontecimento e tenho muita coisa para contar sobre este dia. Também fui assaltado pela polícia. Mas ao fim de tudo Bali é muito barata e da pra curtir de todos os tipos.
Oi Mario,
Valeu pelo teu comentário! Bom saber e entender seu ponto de vista, de certa forma faz sentido também! Abraço!
Essas expectativas são engraçadas. Fui para Buenos Aires por causa de uma promoção de milhas, apenas 3.000 o trecho. Mas confesso que fui apenas para colocar mais um carimbo no passaporte, só mesmo pra contar na lista de mais um país visitado. Só tinha lido coisas negativas do país e da região que eu havia escolhido me hospedar. País em crise, sucateado, muito roubo, muita sujeira… Quando eu estava no voo POA-BUE me questionava o que estava indo fazer naquele lugar. Não estudei nada sobre pontos turísticos, não fiz nenhum planejamento… e o resultado foi uma das melhores viagens da minha vida. Sim é claro que é um país em crise, vi alguns brasileiros sendo furtados na Calle Florida, o transporte precário, mas não sei, Buenos Aires me conquistou, me fisgou, me apaixonei por aquele lugar, nem as mazelas me afetaram. consegui abstrair tudo de ruim e aproveitei o que de melhor a cidade poderia oferecer e passei a entender porque tantos brasileiros iam para aquela cidade…
Acho que as cidades que não possuem uma economia forte e estável, que dependem do turismo elas tentem a maquiar muito a realidade para atrair o turista, a cada dia que passo percebo que para vc conhecer o local realmente, só estando lá, e se quiser ver algo de bom, terás que buscar muito além do que é oferecido e muitas das vezes áreas ainda não atingidas pelo turismo que tendem a se tornar pontos famosos e listados em guias famosos nos agradam mais.
Abraços
Ulisses
Ulisses,
Que bom saber da sua experiência positiva em Buenos Aires! Ainda não conheço mas tentarei ir quando for com essa sua atitude, bacana demais! Concordo também com sua última frase, eu sempre me surpreendo aproveitando uma experiência que não é foco do turismo nem famoso e as vezes pode até ser caminhar por uma vizinhança residencial e batendo papo com algum local…
Um abraço!
É exatamente o que você tinha comentado naquele outro post, Gusti, sobre expectativas… e o chato, é quando o lugar é popular, como Bali, aí querendo ou não você acaba comparando aquilo que você vê com aquela imagem que a mídia expõe. Mas pesquisando, a gente acaba achando os pontos negativos que você descreve, como o transito louco e a extorsão de turistas, mas o problema é que você tem que ser bem específico na busca no google, senão você só encontra coisa positiva, como atrações turísticas, hotéis, etc. Quanto a minha maior decepção numa viajem, eu diria que foi uma vez que eu fui em Manhattan, e o problema não foi o lugar em si, mas a companhia (algo que eu acho muito importante numa viajem) que acabou limitando muito o passeio e gerando muito estresse. Para piorar, eu tinha expectativas muito positivas, pelo fato das outras vezes terem sido boas, e eu acho que isso contribuiu muito de forma negativa. O interessante, é que de todas as vezes que eu fui lá, a melhor foi a primeira, na qual eu não tinha nenhuma expectativa, mas pra falar a verdade, acho que até esperava que não fosse gostar! Concluindo, o lugar e a experiência podem ser de fato ruins, mas acabam sendo piores quando a gente espera o contrário, o que gera a decepção…
Isso aí Lucas!
Nova Iorque é um lugar que gosto por exemplo, mas confesso que eu esperava um pouco mais a primeira vez que eu fui, principalmente das pessoas, elas não pareciam ser muito amigáveis quando eu fui pra lá… (odeio generalizar, mas as vezes eu tenho para justificar minhas impressões..)
Um abraço!
É interessante ver que muitas vezes os países que mais se preservam também tendem a limitar muito o que um turista pode fazer, tipo o Butão e a Coréia do Norte. No final das contas, essa restrição acaba preservando mais a cultura local, mais ao mesmo tempo vc pode não ter a oportunidade de preparar sua viagem por você mesmo, o que também é parte da experiência de viajar. Uma surpresa foi ir pra Guangzhou e quando eu sai pra andar na rua estava esperando tudo bem ocidentalizado e tal, mas quase todas as lojas e restaurantes com os letreiros só em mandarim. Até o cardápio do McDonald’s não tinha inglês, tive que ir pela foto mesmo haha. (Apesar de ser a pior escolha de comida em uma viagem, dessa vez tive que fazer só pra comer no Mcdonald’s em um país comunista haha).
É Felipe, essa aventura estou prestes a enfrentar! Chego em Guangzhou no próximo sábado! Veremos…
Um abraço!