Você já imaginou viajar e encontrar um sábio de barba branca que vai te revelar os segredos da vida? Essa possibilidade é quase um cliché, parece a base da fórmula de tantos livros e filmes hollywoodianos de sucesso. Apesar de eu não buscar essa figura, quem me conhece sabe que eu tenho uma atípica aptidão por me aproximar e fazer amizades com gente mais velha do que eu. Posso dizer que muitos dos meus melhores amigos me superam em pelo menos algumas décadas de idade a mais de vida. Eles são pessoas normais, não têm bola de cristal nem varinha de condão, muitas vezes acham que não têm nada para ensinar e ainda assim aprendo tanto com eles.
Quando a gente é jovem, amamos viver proclamando Carpe Diem e principalmente no ocidente a gente justifica nossa ambição e desenfreio por diversão atrás de frases de efeito como “Você só vive uma vez!”. Na nossa inexperiência, porém, interpretamos de tal forma que podemos acabar levando uma vida frustrada. Quando nos vemos segurando as rédeas da vida a gente perde aos poucos a inocência e também o apetite por coisas novas e ancorados no que a gente talvez acredita ser “responsabilidade”, perdemos o foco da busca pelo o que realmente importa na vida.
Se pudéssemos nos enxergar na hora da morte, e olhando para trás, o que teríamos feito diferente? O que nossa experiência nos ensinaria sobre a arte de viver? Teríamos viajado mais? Não, não estou aqui, para vender que viajar vai mudar sua vida. Na verdade viajar não é para todo mundo, mas muito do que você vai ler embaixo, muitas vezes fica mais claro quando você se desprende dos laços que te prendem em casa e decide sair da sua zona de conforto.
Conviver e conversar com pessoas mais próximas do lado de lá pode te dar uma pista do que podemos fazer hoje para não nos arrependermos depois. Já compartilhei minha experiência e amizade com Betty, uma amiga que nos deixou com 97 anos de idade; Barb, que partiu tomada pela terrível doença de Alzheimer ano passado e também meu encontro com Hebe Camargo, um mês antes de sua morte.
Mas ninguém melhor do que uma enfermeira que cuida de pacientes terminais para nos revelar o que essas pessoas têm a nos ensinar. Bronnie Ware, australiana, trabalhou como enfermeira paliativa e em seu blog, ela cita os cinco maiores arrependimentos das pessoas na hora da morte. Como está em inglês pedi a autora permissão para traduzir e divulgar. Então com a palavra, Bronnie Ware:
“Arrependimentos na hora da morte
Por muitos anos eu trabalhei com cuidados paliativos. Meus pacientes eram aqueles que voltavam para casa, para morrer. Alguns momentos incrivelmente especiais foram compartilhados. Com eles eu passava suas últimas três a doze semanas de suas vidas.
Pessoas crescem muito quando elas encaram sua própria mortalidade. Eu aprendi a nunca subestimar a capacidade de alguém para crescer. Algumas mudanças eram fenomenais. Cada um experimentava uma variação de emoções, como esperado, negação, medo, raiva, remorso, mais negação e eventualmente aceitação. Todos os pacientes porém, encontravam paz antes de partir, cada um deles.
Quando questionados sobre algum arrependimento que eles tinham ou alguma coisa que eles teriam feito diferente, temas comuns surgiam repetidamente. Aqui estão os cinco mais comuns:
1. Eu gostaria de ter tido coragem para viver uma vida verdadeira comigo mesmo, não a vida que os outros esperavam de mim.
Esse era o arrependimento mais comum de todos. Quando as pessoas percebem que a vida está quase no fim e olham com claridade para trás, é fácil ver como tantos sonhos deixaram de ser realizados. A maioria das pessoas não honraram nem mesmo metade de seus sonhos e tiveram que morrer sabendo que foi devido as escolhas que eles fizeram, ou não fizeram.
É muito importante tentar honrar pelo menos alguns de seus sonhos durante sua vida. A partir do momento que você não puder mais contar com sua saúde, já é tarde demais. Saúde traz uma liberdade que poucas pessoas percebem, até que elas já não a tem mais.
2. Eu gostaria de não ter trabalhado tanto.
Isso veio de todos os pacientes homens que eu cuidei. Eles sentiam falta da juventude de seus filhos e da companhia de suas parceiras. Mulheres também falavam desse arrependimento. Mas como a a maioria era de uma geração mais velha, muitas não chegaram a ser chefes de família. Todos os homens que tratei lamentavam profundamente terem gasto tanto tempo na esteira da existência do trabalho.
Simplificando seu estilo de vida e fazendo escolhas conscientes ao longo do caminho, é possível não precisar do salário que você considera ideal. E criando mais espaços de tempo na sua vida, você se torna mais feliz e mais aberto a novas oportunidades, algumas mais convenientes ao seu novo estilo de vida.
3. Eu gostaria de ter tido coragem para expressar meus sentimentos.
Muitas pessoas suprimiram sentimentos para poder viver em paz com os outros. Como resultado, eles se conformaram com uma existência medíocre e nunca se tornaram o que eles tinham o potencial de ser. Muitos desenvolveram doenças relacionadas as amarguras e os ressentimentos que eles carregavam como resultado.
Nós não podemos controlar a reação dos outros. Entretanto, apesar de que muitas pessoas inicialmente podem ter uma reação negativa quando você muda o seu jeito, ao falar com honestidade, isso acaba trazendo o relacionamento para um novo nível, completamente mais saudável. Ou isso ou o fim de um relacionamento doentio. De qualquer forma, você acaba ganhando.
4. Eu gostaria de ter mantido em contato com meus amigos.
Frequentemente eles não percebiam os verdadeiros benefícios de suas velhas amizades até as últimas semanas de suas vidas e então não era sempre possível rastreá-los. Muitos se viram tão envolvidos em suas próprias vidas que acabaram deixando verdadeiras amizades escaparem com o passar dos anos. Há muito arrependimento por não ter dado o tempo e o esforço que os amigos mereciam. Todos sentem falta de seus amigos quando se está morrendo.
É comum para qualquer um deixar as amizades escaparem quando o estilo de vida é agitado. Mas quando você é encarado pelo aproximar da morte, os detalhes físicos da vida se tornam irrelevantes. As pessoas querem manter as finanças em ordem, se possível, mas não é o dinheiro ou status que têm a verdadeira importância para eles. Eles querem deixar as coisas em ordem para benefício das pessoas que eles amam. Mas normalmente eles estão muito doentes e exaustos para conseguir controlar essa tarefa. No final, o que importa é apenas amar e as relações com quem nos cercam. É tudo o que resta nas últimas semanas: amor e relacionamentos.
5. Eu gostaria de ter me permitido ser mais feliz.
Esse é surpreendentemente comum. Muitos só perceberam no final que felicidade é uma escolha. Eles ficaram agarrados nos seus costumes e hábitos antigos. A acomodação com o “familiar” transbordou em suas emoções, assim como suas vidas físicas. Pelo medo da mudança eles fingiram para os outros e para eles mesmos, que eles estavam contentes. Mas lá no fundo, eles sentiam falta de rir com vontade e das tolices da vida.
Quando você está no leito da morte, o que os outros pensam de você é algo distante do que está na sua mente. Quão maravilhoso é ser capaz de se libertar e rir de novo, muito antes da hora da morte.
A vida é uma escolha. É a SUA vida. Escolha com consciência, escolha com sabedoria e escolha com honestidade. Escolha felicidade.”
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Somente hoje descobri seus textos, que são bem legais!
Vivenciei por 3 meses o final de vida de minha irmã mais nova (53 anos), uma pessoa muito alegre! Foi uma experiência ao mesmo tempo dolorosa e enriquecedora: diante da impermanência nos deparamos com o que realmente somos e, o mais difícil, é nos perdoarmos. Acho que daí, os arrependimentos.
Abraço.
Ei Eliana, para tudo na vida nós somos os responsáveis pelo significados que damos às experiências que vivemos. Bom saber que você conseguiu encontrar algo que a enriquecesse apesar da dor. Seja bem vinda ao vagaMundagem e volte sempre hein! Abraços!
Sem muitos comentários top demais!!
Sempre bom poder refletir, né? Bjs
Acho que nem é sempre necessário estar a beira da morte pra se arrepender, as vezes uma situação terrivelmente desagradável já basta pra se dar conta de erros e mudar enquanto ainda há tempo… mas é uma pena que para maioria das pessoas seja necessário a Morte estar batendo na porta pra pensar nisso tudo…
Lucas,
Verdade! E é aí que entra a famosa frase: “tem males que vem para bem”, infelizmente muitas vezes a gente espera o “mal” para nos darmos conta de certas coisas…
Muito top viu?! Adorei … Bom seria se todos refletissem nisso…
Sucesso…
Olá Tamires, bom saber! Seria bom mesmo, né?! Obrigado, sucesso pra vc tb!
Muito legal!!! Aqui tem um video que ilustra um pouco tudo isso… http://www.youtube.com/watch?v=6LxAshVAR4Q&feature=youtu.be
Bacana Thiago! Não tinha visto o vídeo, valeu por postar!