“Estou com medo de ser preso”, acaba de dizer meu amigo Júlio aqui dentro do ônibus que nos leva pelas curvas das montanhas que separam a Bósnia e Herzegovina da Sérvia. A última vez que tentei entrar na Sérvia, ano passado, foi exatamente o que aconteceu. Meu amigo Rafael e eu ficamos detidos por uma noite na polícia de fronteira até sermos “deportados”.
Estávamos na Macedônia e queríamos ir para a Bulgaria e como queríamos economizar uma noite em um hostel decidimos pegar o trem mais demorado que passava pela Sérvia e passarmos a noite dormindo no vagão. Sabíamos que o trem partiria de Scopja as 8 da noite e como viajávamos de ônibus do oeste do país, planejamos chegar umas 5 horas antes do trem partir para garantir nosso lugar no trem e conhecer um pouco a capital da Macedônia. Claro, imprevistos acontecem. O ônibus parou em um congestionamento e como ninguém falava inglês ficamos horas sem saber o que tinha acontecido. Quando o ponteiro pequeno do relógio começou a dar voltas completas sem nenhum sinal de que o tráfego voltasse a fluir, começamos a nos conformar em perder o trem e de que poderíamos passar a noite ali no ônibus mesmo… (E economizaríamos na hospedagem de qualquer forma).
Nessas horas nada melhor do que pensar que há males que vem para bem. Se não pegássemos o trem, é porque não tínhamos que estar alí. Mas até os “males” se camuflam, porque apesar das mais de quatro horas de congestionamento (devido a um acidente), conseguimos chegar na estação de trem a tempo para, já quase sem fôlego, entrar no trem quando o maquinista apitava para dar a partida. Não deu tempo nem de comprar a passagem mas conversamos com o fiscal e conseguimos pagar ali mesmo, dentro do trem. Que sorte, pensávamos enquanto acomodávamos no trem e nos preparávamos para passar mais uma noite sendo ninados pelo chacoalhar do trem.
Mas Murphy era um dos passageiros naquele trem e ele garantiu que aquele dia viraria um post nesse blog para mostrar que nem tudo são flores, céu azul e mares esverdeados na vida de um vagamundo. Quando o trem parou na fronteira aproximadamente às 10 da noite, um oficial de imigração passou recolhendo os passaportes como de praxe. Alguns minutos depois um homem fardado e armado vem no nosso vagão com uma cara séria falando em servo-croata (a gente supõe). Não entendíamos nada do que ele falava mas quando ele começou a perder a paciência, seus sinais bruscos com os braços deixaram a mensagem clara: “Peguem suas coisas e saiam do trem, AGORA!”. Sem entendermos porquê, ele nos escortou para fora e nos levou para uma espécie de cela que faceava os trilhos e do portão vimos nosso trem indo embora e desaparecendo no breu daquela noite gélida.
Eu nem importava tanto de ver o trem indo embora quando a minha maior preocupação era saber onde estava meu passaporte. Querendo explicações chamamos a atenção de um oficial que nos ajudou a entender porque fomos expulsos do trem: Não tínhamos visto para entrar na Sérvia e estaríamos detidos até que o trem passasse no sentido inverso de volta à Macedônia, na manhã do dia seguinte.
Mas precisávamos mesmo de visto? Isso aconteceu em março do ano passado e quando eu chequei na internet, a fonte dizia que brasileiros não precisavam mais do visto para entrar naquele país. A fonte não era uma das mais confiáveis, mas como estou com vergonha de dizer, só deixo um conselho: Nunca confie no que Wikipedia diz! Havia sim um processo desde 2010 no senado brasileiro para abolir a necessidade de visto entre os países, mas a assinatura que faria a lei valer só aconteceria um mês depois.
Como os policias estavam com posse dos nossos passaportes até o dia seguinte, não perdi tempo. Deitei em um dos 3 bancos de madeira, tomei 1 dramin para dormir logo e o tempo passar mais rápido naquela cela suja e fria. Na manhã seguinte, o Rafael com uma cara de tédio e cansaço me conta os percalços de passar a noite em claro cheirando a fumaça do cigarro que o mendigo que dividiu a cela com a gente não parava de fumar. Estávamos fedendo a cigarro da cabeça aos pés, o que é bem comum na verdade quando se viaja em ônibus ou entramos em muitos restaurantes do leste europeu.
Mas agora, mais de um ano depois, estou concluindo esse post de um café em Belgrado, (fedendo a cigarro) suando com o calor do verão europeu e sou a prova de que hoje não há necessidade de visto para entrarmos nesse país. Mas não confie em mim, faça sua pesquisa (você vai se surpreender com o desencontro de informações!) e descubra se quando você vier para cá não vá precisar mesmo de visto.
Caso sua experiência na Servia seja algo além do que uma noite numa cela, aproveite para conhecer um país riquíssimo em história, cuja capital foi destruída aproximadamente 40 vezes por guerras por exemplo e que apesar de não restar muitas construções para ajudar a contar sua história, você vai se surpreender com sua cultura, sua importância e com a simpatia de sua população. Deixo uma dica: Não pergunte sobre as Guerras para as pessoas aqui, pelo menos não no início de uma conversa. Levei “um fora” de uma menina porque perguntei à ela sobre como foi viver durante a Guerra. Mas isso é assunto para um outro post!
Que isso hein Gusti… que loucura!
Murphy não perdoa ninguém mesmo não.. e por pouco não precisaria de visto! Mas faz parte, tudo vira história. hehe
Já começou a escrever seu livro? Poucas pessoas tem oportunidade de vivênciar de perto tantas culturas diferentes e passar por tantos sufocos e aventuras assim! 🙂
Bjs
Ei Patty! Pois é, um livro daqui a pouco vai tomar forma! 😉
Bom te ver aqui de novo! 🙂
Beijos!
Gusti, você é realmente surpreendentemente corajoso!!! Que vida fantástica deve ser a sua!!
Que aventura!! Estou acompanhando daqui os seus posts e morrendo de curiosidade também sobre esse “fora”, rsrsrs
Bj grande e ótimas aventuras prá você!!
Ei Clícia!
Que bom te ver por aqui! Logo eu escrevo sobre o fora, aguarde! haha
Beijos e obrigado!
Deixa eu ver se entendi… então se vocês voltassem lá na Servia um mês depois isso não teria acontecido? Que coisa, hein… Mas tô curioso pra saber dessa história ai desse fora que você levou! heheh… mas sério, perguntar de guerra pra quem já viveu em guerra deve ser quinem perguntar pra brasileiro como foi estar no estádio “naquele” dia em BH… mesmo estando aqui, quem me perguntou “levou fora” na hora!
Aquele abraço!
Pois é Lucas, isso mesmo! Um mês depois não teríamos passado por isso! Pois é, vacilo meu, hein! Imagino que todo mundo deve perguntar a mesma coisa (aliás segundo ela, geralmente os americanos… tsctsc)
Abração!