Já imaginou aprender a pilotar um avião de olhos vendados? Pode parecer estranho pra quem não é piloto mas é isso que tenho aprendido após um mês intensivo do curso teórico de voo por instrumentos. Num voo típico da primeira parte desse curso, decolo em condições de voo visual do aeroporto Boeing Field, (onde nasceu a fábrica da Boeing e onde tenho a oportunidade de diariamente ver Boeings novinhos em folha fazendo seus primeiros voos e decolagens, incluindo o dreamliner(787) e o gigantesco 747-8) e após me certificar que estou a uma distância segura abaixo do espaço aéreo “bravo” do SEATAC, o mais movimentado de Washington, passo o controle para o instrutor e tenho os olhos vendados. Bem, não exatamente, uso uma espécie de óculos que não me permitem ver pelas janelas do avião, visualizo apenas os instrumentos, e a intenção é simular voo nas nuvens. Com os pés controlando o leme e as mãos o aileron e o profundor, e de olhos atentos em principalmente seis instrumentos diferentes, faço curvas, subo, desço, mantenho voo nivelado, comunico com os controladores, navego. Às vezes o instrutor toma o controle e me pede para fechar os olhos e coloca o avião em situações completamente raras e me sinto em uma montanha russa quando de repente ele diz: ” Recupera!” Ainda sem poder ver o que está acontecendo “lá fora” vejo o velocímetro atingindo velocidades perigosas e se sigo os procedimentos corretos, em instantes tenho o avião de volta sob controle.
A maior lição que tenho aprendido nessa etapa é não confiar nos nossos sentidos. Sujeitos a diferentes forças durante o voo e muitas vezes com a visão limitada podemos nos desorientarmos a ponto de poder colocar o avião em situações bem perigosas. Nos nossos ouvidos temos um sistema de canais com um fluido que se movimenta em três eixos (como os aviões). Como não fomos “fabricados” para voar, de acordo com o movimento desse fluido durante o voo, podemos ter diferentes ilusões, como por exemplo, de que temos as asas niveladas quando na verdade estamos perdendo altitude em uma prolongada curva(graveyard spiral). Nessas situações tudo que temos que fazer é confiar nos instrumentos da aeronave e ignorar esses sinais que enganam nosso cérebro. Infelizmente, alguns pilotos se esquecem dessa lição e pagam caro por isso, como o filho do ex-presidente americano John Kennedy, que morreu no final da década de 90.
Muitas pessoas já tiveram a experiência em voo comercial, de em um dia nublado, se deliciar com a paisagem que surge quando o avião sai à cima das nuvens e de repente surge aquele sol radiante num céu azul sobre um mar de nuvens. Esse é o tipo de prazer que pilotos experimentam quando voam por regras de voo por instrumentos. E é mais ou menos isso que experimento quando meu instrutor tem piedade de mim e me deixa tirar a venda e tenho uma visão como a da foto que antecede esse post. Mas dois segundos depois coloco a venda de volta e tudo que vejo são ponteiros e números…
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